A espiral é a essência do mistério da vida. Assim como se centra, ela
também para, se encontra, se retorce e, então, desce e sobe novamente
em graciosas curvas. O tempo se retorce em torno de si mesmo, trazendo
os ecos e vibrações enquanto que os caminhos vivos da espiral passam
próximos um do outro. A vida corre por estradas sinuosas, os seres se
encontram em determinados pontos de suas caminhadas, se entrelaçam, se
afastam, partem, retornam às origens. O ponto de partida também é o
ponto de chegada trazendo-nos a questão do retornar sempre,
reencontrar-se e se renovar.
As espirais também circulam dentro de nós, a energia circula em
espiral, é onde a matéria e o espírito mais perfeitamente se encontram, e
o tempo, por ele mesmo, não existe. Os nativos lembram as diversidades
da vida e dos caminhos, e não compreendem o mundo de forma linear, o
seguir em frente em uma única direção como se a vida fosse uma linha
reta traçada entre um ponto de início e um de término. O destino é
sempre ir além. O grande desafio de todo ser, por natureza um guerreiro
trilhando as estradas das espirais da vida, é essa busca, é o retorno, é
a partida, é caminhar em círculos/ciclos assim como caminha a natureza,
pois somos parte dela. É fazer girar a roda do tempo, não nos prendendo
em nenhum ponto em específico porque, assim, podemos vislumbrar os mais
diversos pontos que compõem a espiral.
Sobre as formas espiraladas e circulares, Alce Negro, dos Oglala Sioux coloca o seguinte:
“Tudo que o poder do mundo faz é feito em círculo. O ceú é
redondo, e tenho ouvido que a Terra é redonda como uma bola, e assim
também o são as estrelas. O vento, em sua força máxima, rodopia. Os
pássaros fazem seus ninhos em círculos, pois a religião deles é a mesma
que a nossa. O sol nasce e desaparece em círculo em sua sucessão, e
sempre retornam outra vez ao ponto de partida. A vida do homem é um
círculo, que vai da infância até a infância, e assim acontece com tudo
que é movido pela força. Nossas tendas eram redondas como os ninhos das
aves, e sempre eram dispostas em círculo, o aro da nação, o ninho de
muitos ninhos, onde o Grande Espírito quis que nós chocássemos nossos
filhos”.
Para os antigos celtas essa é toda a essência do mistério da vida. O
circular, o espiralado. O tempo, uma das triplas linhas tão importantes
para o imaginário celta, se retorce em torno de si mesmo. Os astecas
achavam que certas flores que tinham em seu centro espirais, eram a
alegria do mundo, mostrando o ciclo do sol, quando nasce e se põe, as
estações, solstícios, ciclos assim como a vida dos homens. Os orientais
falam da kundalini, do fluxo de uma energia em espiral, dos redemoinhos
energéticos que perambulam nossos corpos.
Como vórtex de energia, as espirais encontradas em vestígios antigos
expressavam um entendimento do cosmos, da energia vibrante, da vida, ou o
seu contrário. Tradicionalmente, os ancestrais compreenderam que
espirais no sentido horário representavam o nascer, o sol, a vida, o
mundo de cima, a transformação pelas experiências exteriores. Para o
sentido anti-horário, representavam a lua, a morte, o outro mundo, o
mundo de baixo, o mundo dos sonhos e alucinações, intuição, as
experiências transformadoras vindas do nosso interior.
Para os hindus, o que no nosso mundo terrestre era no sentido
anti-horário, para a esquerda, no outro mundo, correspondia ao sentido
horário. Hoje sabe-se que esses simbolismos expressam as funções
cerebrais, o lado esquerdo do cérebro regula o lado direito de nosso
corpo, o lado direito regula o lado esquerdo do corpo. Nem bom, nem mal,
apenas diversidades que compõe o universo, uma perfeita simbiose, uma
perfeita composição de energias.
Se vermos vários locais sagrados dos antepassados, desde o
paleolítico, em qualquer parte do mundo, notaremos sempre a compreensão
circular e espiralada. A espiral é a energia vital, é a energia em
movimento, é a própria jornada.
Texto de Menkaiká
http://terramistica.com.br/a-espiral/