Edimar Silva (Membro da Sociedade
Teosófica pela Loja Fênix, de Brasília-DF)
Não se sabe ao certo quando, onde e nem quem escreveu A Tábua de Esmeralda; como acontece no estudo de outros textos da literatura esotérica universal, as suas origens permanecem envoltas em um mistério rico em imagens e passagens mitológicas, característica de muitas outras tradições.
Existem várias versões para a maneira pela qual A Tábua de Esmeralda teria sido descoberta:
• uma delas, certamente uma lenda, diz que A Tábua de Esmeralda teria sido encontrada após o dilúvio em uma gruta rochosa, e que seu texto estaria gravado em caracteres fenícios em uma tábua de esmeralda; observemos que o próprio dilúvio tem lugar no simbolismo alquímico, como um símbolo para a fase da alquimia chamada Solutio, em que predomina o elemento água e tudo se dissolve nela. A água aparece também em outros sistemas como um símbolo para as emoções, que, quando em desarmonia, "dissolvem", por assim dizer, as estruturas psíquicas do ser; dentro deste contexto, sendo A Tábua de Esmeralda um texto que propõe, ainda que de forma velada, um caminho para a integração das partes em um todo, podemos ler isto como um indicativo para reintegrar as partes que foram alagadas e desintegradas, seja pelas águas, pelas emoções ou por qualquer outro fator de desintegração; isto é também válido para a própria reunificação do universo em uma coisa una;
• uma outra versão, provavelmente uma lenda também, diz que a Tábua de Esmeralda teria sido encontrada pelos soldados de Alexandre, o Grande, no interior da Grande Pirâmide de Gizé, e que esta seria o túmulo de seu autor, Hermes Trismegisto. Esta mesma lenda diz que o texto da Tábua de Esmeralda teria sido gravado pelo próprio Hermes com uma ponta de diamante sobre uma tábua de esmeralda, vindo, daí, o seu nome;
• o Glossário Teosófico de Helena P. Blavatsky (Editora Ground) explica que A Tábua de Esmeralda "foi encontrada por Sarai (!), esposa de Abraão, no corpo morto de Hermes, e que assim o dizem os cabalistas cristãos e os maçons". Destaca que, "na Teosofia, considera-se isto uma alegoria" e indaga se "poderia significar que Sarai-Swati, esposa de Brahmâ, ou deusa da ciência e sabedoria secreta, encontrando ainda muito da sabedoria antiga latente no corpo morto da Humanidade fez reviver tal sabedoria, o que poderia ter levado ao renascimento das Ciências Ocultas, durante tanto tempo esquecidas em todo o mundo".
Outro mistério diz respeito a quem escreveu tal preciosidade da literatura ocultista, porque não se sabe, ao certo, quem foi Hermes Trismegisto e nem mesmo se esse personagem teve uma existência real, Segundo o Glossário Teosófico, "Hermes Trimegisto é o nome de Hermes ou Thot em seu aspecto humano; Hermes, o aspecto divino, é muito mais do que isto". Hermes é um personagem da tradição grega, que tem em Thot o seu correspondente no Egito e, em Mercúrio, também um similar na tradição romana. O Glossário Teosófico continua: como um ser divino, "Hermes-Thot-Aah é Thot, a Lua" e tem "como símbolo o lado brilhante da Lua, que aquelas tradições supunham conter a essência da Sabedoria criadora ou o 'elixir de Hermes' ". Um outro símbolo para Hermes-Thot como Sabedoria é a serpente. Segundo Platão, Hermes descobriu os números, a geometria, a astronomia e as letras; os egípcios atribuem a ele a revelação dos hieroglifos.
É difícil tarefa definir se Hermes teve ou não existência real, porque se por um lado ele possui esse aspecto mitológico ou divino, por outro, existe uma infinidade de textos que lhe são atribuídos, como por exemplo o Caiballion, além da própria Tábua de Esmeralda; uma tentativa de explicação seria a de que existiu realmente o personagem e que, após sua morte, muitas pessoas escreveram textos sobre assuntos sagrados e assinaram como Hermes Trismegisto; outra explicação é que Hermes Trismegisto não seria um personagem real, mas uma função sacerdotal e ritualística, que foi ocupada por muitos sacerdotes sucessivamente, e esses, quando escreviam algum texto, usavam também aquele nome como identificação; acrescente-se a isto o fato de que muitos alquimistas podem ter utilizado a mesma assinatura para seus trabalhos.
A referência mais antiga à Tábua de Esmeralda que se conhece está em um escrito de Dyâbir Ibn Hayyan, do século VIII, mas sabe-se que São Alberto Magno já tinha conhecimento de sua versão latina; pelo seu estilo ela possui origem pré-islâmica, isto é, seria anterior ao século VII e como seu conteúdo está em perfeita harmonia com a tradição alquímica (ou hermética) os próprios alquimistas admitem que ela está realmente vinculada à origem daquela tradição.
Passemos à leitura do texto.
A TÁBUA DE ESMERALDA
Hermes Trismegisto
"É verdade, sem engano, certo e muito verdadeiro; o que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo; por tais coisas se fazem os milagres de uma coisa só;
"Assim como todas as coisas são e procedem do Uno, pela mediação do Uno, assim todas as coisas nasceram desta coisa única, por adaptação;
"O Sol é seu pai, a Lua sua mãe. O Vento trouxe-a em seu ventre. A Terra o alimenta e é o seu receptáculo;
"O Pai de tudo, o Telesma universal está aqui;
"A sua força permanece inteira quando se converte em terra;
"Separarás a terra do fogo, o sutil do espesso, suavemente, com grande habilidade;
"Sobe da Terra ao Céu e desce novamente à Terra e recebe a força das coisas superiores e das coisas inferiores;
"Por este meio obterás a glória do mundo e toda obscuridade se afastará de ti;
"É a força forte de toda força, pois vencerá toda coisa sutil e penetrará toda coisa sólida;
"Assim o mundo foi criado; disso sairão adaptações admiráveis cujo meio é dado aqui;
"Por isso me chamam Hermes Trimegisto, porque possuo as três partes da sabedoria do mundo inteiro;
"O que eu disse sobre a operação do Sol está completo."
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EXPLICAÇÃO DA TÁBUA DE ESMERALDA
Hortulano
(Alguns autores dizem que o verdadeiro nome de Hortulano é Joanes Grasseus, que teria vivido no séc. XV; o historiador A. E. Waite, na obra A Irmandade Rosa-Cruz, menciona um alquimista parisiense do séc. XIV de nome Ortholanus, autor de uma Alquimia Prática e de uns comentários à Tábua de Esmeralda; já Julius Évola, em seu livro A Tradição Hermética, cita Ortulano e os Comentários à Tábua Esmeraldina, que aparecem como parte da Bibliothèque des Philosophes Chimiques, compilação de textos e autores de Alquimia realizada por Salmon no séc. XVIII. Mas não se sabe com certeza quem foi Hortulano, uma vez que este seguiu a o costume comum entre os alquimistas, que realizavam seu trabalho na segurança do segredo e do anonimato).
PREFÁCIO
Louvor, honra e glória lhe sejam dadas para sempre, oh! Senhor Deus Todo Poderoso! Com vosso querido filho Jesus Cristo, nosso Salvador, verdadeiro Deus e único Homem Perfeito, e com o Santo Espírito Consolador - Trindade Santa -, Vós que sois o único Deus. Dou-vos graças porque, havendo conhecido as coisas passageiras deste mundo, inimigo nosso, vós me retirastes dele, por vossa misericórdia, para que eu não fosse pervertido por suas voluptuosidades enganosas. E, como vejo a muitos que trabalham nessa arte não seguirem o reto caminho, suplico-vos, meu Senhor e meu Deus, que, se assim lhe aprouver, eu possa desviar do erro, pela ciência que me destes, a todos meus queridos e bem amados, a fim de que, conhecendo a verdade, possam louvar vosso santo Nome, que seja eternamente bendito. Assim, pois, eu, Hortulano, - isto é, Jardineiro -, assim chamado por causa dos jardins marítimos, indigno como sou de ser chamado discípulo da Filosofia, movido pela amizade que devo a meus amados, quis deixar escrita a declaração e explicação das palavras de Hermes, pai dos Filósofos, ainda que sejam obscuras, aclarando sinceramente toda a prática da verdadeira Obra. Certamente, de nada serve que os Filósofos queiram esconder a ciência em seus escritos quando está operando a doutrina do Espírito Santo.
CAPÍTULO I
A ARTE DA ALQUIMIA É CERTA E VERDADEIRA
O Filósofo disse: "é verdade", referindo-se a que a arte da Alquimia nos foi dada. "Sem mentira", disse, para convencer a quem diz que a ciência é mentirosa ou falsa. "Certo", isto é, experimentado, pois tudo o que foi experimentado é muito certo. E "muito verdadeiro", pois o muito verdadeiro Sol é procriado pela arte. Disse "muito verdadeiro" em modo superlativo, porque o Sol engendrado por esta arte ultrapassa a todo Sol natural em todas suas propriedades, tanto medicinais como outras.
CAPÍTULO II
A PEDRA SE DIVIDIRÁ EM DUAS PARTES
Continuando sua exposição, trata da operação da pedra, dizendo que "o que está embaixo é igual ao que está em cima". Disse isso porque, pelo Magistério, a pedra se divide em duas partes principais: a parte superior, que vai para cima, e inferior, que permanece embaixo, fixa e clara. E, sem dúvida, estas duas partes são semelhantes em virtude, daí haver dito: "o que está em cima é como o que está embaixo". Certamente, esta divisão é necessária. "Para fazer os milagres de uma só coisa", isto é, da Pedra, pois a parte inferior é a Terra, a nutriz e o fermento; a parte superior é a Alma, que vivifica toda a Pedra e a ressuscita. Por isso, uma vez realizadas a separação e a conjunção, aparecem os "numerosos milagres" na Obra secreta da Natureza.
CPÍTULO III
A PEDRA POSSUI, EM SI MESMA, OS QUATRO ELEMENTOS
E "do mesmo modo que todas as coisas são e vêm do Uno por mediação do Uno". Aqui o Filósofo exemplifica, dizendo que todas as coisas "são e vêm do Uno", isto é, de um globo confuso ou de uma massa confusa, "por mediação", quer dizer, pelo pensamento e pela criação do Uno, ou seja, de Deus todo poderoso. Assim, todas as coisas nasceram, ou saíram, desta coisa única, que é uma massa confusa, "por adaptação", unicamente pelo mandato e milagre de Deus, assim, nossa Pedra nasce e surge de uma massa confusa, que contém em si todos os elementos e que foi criada por Deus, e por seu milagre nossa Pedra sai dali e nasce.
CAPÍTULO IV
A PEDRA TEM PAI E MÃE, QUE SÃO O SOL E A LUA
Do mesmo modo que vemos um animal gerar naturalmente outros animais com ele parecidos, assim o Sol gera artificialmente o Sol, pela virtude da multiplicação da pedra, e por isso continua: "o Sol é seu Pai" - o Ouro dos Filósofos. E, dado que em todas as gerações naturais há de haver um lugar próprio para receber as sementes com certa conformidade de semelhança entre suas partes, assim também é preciso que, nesta geração artificial da Pedra, o Sol tenha uma matéria que seja a matriz adequada para receber seu esperma e sua tintura. E isto é a Prata dos Filósofos, por isso continua dizendo: "a Lua é sua mãe".
CAPÍTULO V
A CONJUNÇÃO DAS PARTES É A CONCEPÇÃO E A GERAÇÃO DA PEDRA
Quando ambos se recebem um ao outro na concepção da Pedra, esta é engendrada no seio do Vento, e isto é dito em seguida: "o Vento a trouxe em seu seio". Sabe-se que o Vento é o ar, e o ar é vida, e a vida é a alma, que, como já foi dito antes, vivifica a Pedra. Assim, pois, é necessário que o Vento traga toda a Pedra e a transporte, gerando o Magistério. Disso se infere que a Pedra deva receber o alimento de sua nutriz, a Terra. Disse ainda o Filósofo: "a Terra é sua nutriz". Pois, como a criança que sem o alimento que recebe de sua mãe não cresceria jamais, assim também nossa Pedra jamais chegaria a existir sem a fermentação da Terra, e o fermento se chama alimento. Deste modo, por conjunção do pai com a mãe se gera os filhos, semelhantes aos pais, e que, se são submetidos a um demorado cozimento, tornar-se-ão semelhantes à mãe e terão o peso do pai.
CPÍTULO VI
A PEDRA É PERFEITA SE A ALMA SE FIXA NO CORPO
Continua: "o pai de tudo, o Telesma de todo o mundo está aqui". Isto é, na obra da Pedra há uma via final. E nota que Filósofo chama a operação de o "pai de tudo", o "Telesma", ou seja, de todo o tesouro ou segredo de todo o mundo, ou ainda, de toda Pedra que se tenha podido encontrar neste mundo. "Está aqui", como se dissesse: "aqui te mostro". Pois o Filósofo disse: "Queres que mostre quando está acabada e perfeita a força da Pedra? Será quando ela se tenha transformado e convertido em sua Terra", por isso disse: "sua força e potência serão completas, isto é, perfeitas, se se converte e se transforma em Terra". Isto é, se a alma da Pedra (da qual antes se fez menção, dizendo que a alma é chamada Vento ou Ar e que nela está toda a vida e força da Pedra) se transforma em Terra da Pedra e se fixa, de tal maneira que toda a substância da Pedra esteja de tal modo unida à sua nutriz (a Terra) que toda a Pedra se transforme em fermento. De igual modo, quando se faz pão, um pouco de levedura nutre e fermenta uma grande quantidade de massa, mudando assim toda a substância da pasta em fermento, da mesma maneira o Filósofo indica que nossa Pedra terá de ser fermentada de modo a servir, ela mesma, de fermento para sua própria fermentação.
CAPÍTULO VII
A PURIFICAÇÃO DA PEDRA
Continuando, ensina como se há de multiplicar a Pedra mas, antes, faz referências à purificação da mesma e à separação de suas partes, dizendo: "Separarás a Terra do Fogo, o sutil do espesso, suavemente e com grande perícia". "Suavemente", ou seja, pouco a pouco e sem violência, ou melhor, com espírito e habilidade, e por meio do excremento ou esterqueiro filosofal. "Separarás", isto é, dissolverás, pois a dissolução é a separação das partes. "A Terra do Fogo, o sutil do espesso", isto é, a sujeira e a imundície do Fogo, do Ar, da Água e de toda a substância da pedra, de modo que permaneça, em sua totalidade, sem mancha alguma.
CAPÍTULO VIII
A PARTE NÃO FIXA DA PEDRA HÁ DE SE SEPARAR DA PARTE FIXA E ELEVAR-SE
Assim preparada, a Pedra já pode ser multiplicada. Por isso, aqui coloca a multiplicação e fala da fácil liquefação ou fusão desta por aquela, virtude que tem de ser penetrante nos corpos densos e sutis, dizendo: "Subirá da Terra ao Céu e de novo descerá à Terra". Aqui, há que indicar que, ainda que nossa Pedra, durante sua primeira operação se divida em quatro partes - os quatro elementos -, existem nela duas partes principais, como já se disse antes: uma que sobe, chamada não fixa ou volátil, e outra que permanece fixa embaixo, chamada Terra ou fermento. Mas há que se ter uma grande quantidade da parte não fixa para se dar à Pedra quando esta estiver limpa e sem manchas, e terá que ser dada por meio do Magistério tantas vezes quantas sejam necessárias, até que, por virtude do Espírito, ao sublimá-la e fazê-la sutil, toda a Pedra seja levada para cima. Disto fala o Filósofo quando diz: "Sobe da Terra ao Céu".
CAPÍTULO IX
LOGO TERÁ DE SER FIXADA A PEDRA VOLÁTIL
Feito tudo isso, há que se incinerar esta pedra (assim exaltada e elevada ou sublimada), com o azeite extraído dela mesma durante a primeira operação, chamado água da Pedra. E se a fará retornar amiúde, sublimando-a, até que, pela virtude da fermentação da Terra (com a Pedra elevada ou sublimada), toda a Pedra desça ao seio da Terra por reiteração, permanecendo fixa e fluida. É isso que disse o Filósofo: "...e descerá de novo à Terra, deste modo recebe a força das coisas superiores", sublimando, "e das inferiores", descendo, isto é, o corporal se tornará espiritual durante a sublimação e o espiritual se tornará corporal durante a descida, quer dizer, quando se reveste de matéria.
CAPÍTULO X
DA UTILIDADE DA ARTE E DA EFICÁCIA DA PEDRA
"Por esse meio, terás a glória do mundo", isto é, com esta Pedra, assim composta, terás a glória de todo o mundo e "toda a obscuridade se afastará de ti". Quer dizer, toda pobreza e enfermidade. "É a força forte de toda força", pois não há comparação entre a força desta Pedra e as outras forças deste mundo, "pois vencerá toda coisa sutil e penetrará toda coisa sólida". "Vencerá", ou seja, ao vencer e ao elevar-se, transformará e mudará o mercúrio vivo, congelando-o, por mais que seja sutil e brando, e penetrará os demais metais, que são corpos duros, sólidos e firmes.
CAPÍTULO XI
O MAGISTÉRIO IMITA A CRIAÇÃO DO UNIVERSO
Continuando, o Filósofo dá um exemplo da composição de sua Pedra, dizendo: "Assim foi criado o mundo". Assim, temos que nossa pedra se faz da mesma maneira que foi criado o mundo, pois as primeiras coisas de todo o mundo, e tudo o que no mundo tenha havido foi previamente uma massa confusa, sem ordem, um caos, como dito antes. E, depois, por artifício do soberano Criador, essa massa confusa, após de ter sido admiravelmente separada e retificada, foi dividida em quatro elementos; e, devido a tal separação, são feitas diversas e diferentes coisas. Assim também se pode fazer diversas e diferentes coisas pela produção e disposição de nossa Obra e pela separação dos elementos dos diversos corpos. "Disso sairão admiráveis adaptações", isto é, se separas os elementos, far-se-ão as admiráveis composições próprias de nossa Obra, na composição de nossa Pedra, por conjunção dos elementos retificados. Das quais, isto é, destas coisas admiráveis e adequadas a tal fim, o "meio", quer dizer, o meio de proceder "está aqui".
CAPÍTULO XII
DECLARAÇÃO ENIGMÁTICA DA MATÉRIA DA PEDRA
"Por isso sou chamado Hermes Trismegisto", isto é, Mercúrio três vezes muito grande. Depois de haver mostrado a composição da Pedra, o Filósofo declara, de modo enigmático, de que é feita nossa Pedra, nomeando-se a si mesmo. Em primeiro lugar, para que seus discípulos, quando chegarem a esta ciência, recordem se sempre de seu nome. Sem dúvida, aquilo com que se faz a Pedra é tratado a seguir, quando ele diz: "porque tenho as três partes da Filosofia de todo o mundo", que estão, as três, contidas em nossa Pedra, isto é, no Mercúrio dos Filósofos.
CAPÍTULO XIII
PORQUE SE DIZ QUE A PEDRA É PERFEITA
Diz-se que essa Pedra é perfeita porque ela tem, em si, a natureza das coisas minerais, vegetais e animais, daí ser chamada tríplice e também tri-una, isto é tríplice e única, que possui em si quatro naturezas, isto é, os quatro elementos, e três cores: o negro, o branco e o vermelho. Ela também é chamada "Grão de trigo", que, se não morre, fica sozinho; porém, se morre, (como antes se disse quando se falou da conjunção) trará muitos frutos, assim que as operações de que temos falado se cumpram. Oh, amigo leitor! Se já sabes a operação da Pedra, verás que te disse a verdade; se não a sabes, não te disse nada. "O que foi dito da Operação do Sol está cumprido e acabado". O que se disse da operação da Pedra de três cores e de quatro naturezas que estão em uma única coisa, a saber, no Mercúrio Filosofal, está cumprido e acabado.
Traduzido do espanhol por Cláudio Viziolli e Edimar Silva.
Não se sabe ao certo quando, onde e nem quem escreveu A Tábua de Esmeralda; como acontece no estudo de outros textos da literatura esotérica universal, as suas origens permanecem envoltas em um mistério rico em imagens e passagens mitológicas, característica de muitas outras tradições.
Existem várias versões para a maneira pela qual A Tábua de Esmeralda teria sido descoberta:
• uma delas, certamente uma lenda, diz que A Tábua de Esmeralda teria sido encontrada após o dilúvio em uma gruta rochosa, e que seu texto estaria gravado em caracteres fenícios em uma tábua de esmeralda; observemos que o próprio dilúvio tem lugar no simbolismo alquímico, como um símbolo para a fase da alquimia chamada Solutio, em que predomina o elemento água e tudo se dissolve nela. A água aparece também em outros sistemas como um símbolo para as emoções, que, quando em desarmonia, "dissolvem", por assim dizer, as estruturas psíquicas do ser; dentro deste contexto, sendo A Tábua de Esmeralda um texto que propõe, ainda que de forma velada, um caminho para a integração das partes em um todo, podemos ler isto como um indicativo para reintegrar as partes que foram alagadas e desintegradas, seja pelas águas, pelas emoções ou por qualquer outro fator de desintegração; isto é também válido para a própria reunificação do universo em uma coisa una;
• uma outra versão, provavelmente uma lenda também, diz que a Tábua de Esmeralda teria sido encontrada pelos soldados de Alexandre, o Grande, no interior da Grande Pirâmide de Gizé, e que esta seria o túmulo de seu autor, Hermes Trismegisto. Esta mesma lenda diz que o texto da Tábua de Esmeralda teria sido gravado pelo próprio Hermes com uma ponta de diamante sobre uma tábua de esmeralda, vindo, daí, o seu nome;
• o Glossário Teosófico de Helena P. Blavatsky (Editora Ground) explica que A Tábua de Esmeralda "foi encontrada por Sarai (!), esposa de Abraão, no corpo morto de Hermes, e que assim o dizem os cabalistas cristãos e os maçons". Destaca que, "na Teosofia, considera-se isto uma alegoria" e indaga se "poderia significar que Sarai-Swati, esposa de Brahmâ, ou deusa da ciência e sabedoria secreta, encontrando ainda muito da sabedoria antiga latente no corpo morto da Humanidade fez reviver tal sabedoria, o que poderia ter levado ao renascimento das Ciências Ocultas, durante tanto tempo esquecidas em todo o mundo".
Outro mistério diz respeito a quem escreveu tal preciosidade da literatura ocultista, porque não se sabe, ao certo, quem foi Hermes Trismegisto e nem mesmo se esse personagem teve uma existência real, Segundo o Glossário Teosófico, "Hermes Trimegisto é o nome de Hermes ou Thot em seu aspecto humano; Hermes, o aspecto divino, é muito mais do que isto". Hermes é um personagem da tradição grega, que tem em Thot o seu correspondente no Egito e, em Mercúrio, também um similar na tradição romana. O Glossário Teosófico continua: como um ser divino, "Hermes-Thot-Aah é Thot, a Lua" e tem "como símbolo o lado brilhante da Lua, que aquelas tradições supunham conter a essência da Sabedoria criadora ou o 'elixir de Hermes' ". Um outro símbolo para Hermes-Thot como Sabedoria é a serpente. Segundo Platão, Hermes descobriu os números, a geometria, a astronomia e as letras; os egípcios atribuem a ele a revelação dos hieroglifos.
É difícil tarefa definir se Hermes teve ou não existência real, porque se por um lado ele possui esse aspecto mitológico ou divino, por outro, existe uma infinidade de textos que lhe são atribuídos, como por exemplo o Caiballion, além da própria Tábua de Esmeralda; uma tentativa de explicação seria a de que existiu realmente o personagem e que, após sua morte, muitas pessoas escreveram textos sobre assuntos sagrados e assinaram como Hermes Trismegisto; outra explicação é que Hermes Trismegisto não seria um personagem real, mas uma função sacerdotal e ritualística, que foi ocupada por muitos sacerdotes sucessivamente, e esses, quando escreviam algum texto, usavam também aquele nome como identificação; acrescente-se a isto o fato de que muitos alquimistas podem ter utilizado a mesma assinatura para seus trabalhos.
A referência mais antiga à Tábua de Esmeralda que se conhece está em um escrito de Dyâbir Ibn Hayyan, do século VIII, mas sabe-se que São Alberto Magno já tinha conhecimento de sua versão latina; pelo seu estilo ela possui origem pré-islâmica, isto é, seria anterior ao século VII e como seu conteúdo está em perfeita harmonia com a tradição alquímica (ou hermética) os próprios alquimistas admitem que ela está realmente vinculada à origem daquela tradição.
Passemos à leitura do texto.
A TÁBUA DE ESMERALDA
Hermes Trismegisto
"É verdade, sem engano, certo e muito verdadeiro; o que está embaixo é como o que está em cima e o que está em cima é como o que está embaixo; por tais coisas se fazem os milagres de uma coisa só;
"Assim como todas as coisas são e procedem do Uno, pela mediação do Uno, assim todas as coisas nasceram desta coisa única, por adaptação;
"O Sol é seu pai, a Lua sua mãe. O Vento trouxe-a em seu ventre. A Terra o alimenta e é o seu receptáculo;
"O Pai de tudo, o Telesma universal está aqui;
"A sua força permanece inteira quando se converte em terra;
"Separarás a terra do fogo, o sutil do espesso, suavemente, com grande habilidade;
"Sobe da Terra ao Céu e desce novamente à Terra e recebe a força das coisas superiores e das coisas inferiores;
"Por este meio obterás a glória do mundo e toda obscuridade se afastará de ti;
"É a força forte de toda força, pois vencerá toda coisa sutil e penetrará toda coisa sólida;
"Assim o mundo foi criado; disso sairão adaptações admiráveis cujo meio é dado aqui;
"Por isso me chamam Hermes Trimegisto, porque possuo as três partes da sabedoria do mundo inteiro;
"O que eu disse sobre a operação do Sol está completo."
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EXPLICAÇÃO DA TÁBUA DE ESMERALDA
Hortulano
(Alguns autores dizem que o verdadeiro nome de Hortulano é Joanes Grasseus, que teria vivido no séc. XV; o historiador A. E. Waite, na obra A Irmandade Rosa-Cruz, menciona um alquimista parisiense do séc. XIV de nome Ortholanus, autor de uma Alquimia Prática e de uns comentários à Tábua de Esmeralda; já Julius Évola, em seu livro A Tradição Hermética, cita Ortulano e os Comentários à Tábua Esmeraldina, que aparecem como parte da Bibliothèque des Philosophes Chimiques, compilação de textos e autores de Alquimia realizada por Salmon no séc. XVIII. Mas não se sabe com certeza quem foi Hortulano, uma vez que este seguiu a o costume comum entre os alquimistas, que realizavam seu trabalho na segurança do segredo e do anonimato).
PREFÁCIO
Louvor, honra e glória lhe sejam dadas para sempre, oh! Senhor Deus Todo Poderoso! Com vosso querido filho Jesus Cristo, nosso Salvador, verdadeiro Deus e único Homem Perfeito, e com o Santo Espírito Consolador - Trindade Santa -, Vós que sois o único Deus. Dou-vos graças porque, havendo conhecido as coisas passageiras deste mundo, inimigo nosso, vós me retirastes dele, por vossa misericórdia, para que eu não fosse pervertido por suas voluptuosidades enganosas. E, como vejo a muitos que trabalham nessa arte não seguirem o reto caminho, suplico-vos, meu Senhor e meu Deus, que, se assim lhe aprouver, eu possa desviar do erro, pela ciência que me destes, a todos meus queridos e bem amados, a fim de que, conhecendo a verdade, possam louvar vosso santo Nome, que seja eternamente bendito. Assim, pois, eu, Hortulano, - isto é, Jardineiro -, assim chamado por causa dos jardins marítimos, indigno como sou de ser chamado discípulo da Filosofia, movido pela amizade que devo a meus amados, quis deixar escrita a declaração e explicação das palavras de Hermes, pai dos Filósofos, ainda que sejam obscuras, aclarando sinceramente toda a prática da verdadeira Obra. Certamente, de nada serve que os Filósofos queiram esconder a ciência em seus escritos quando está operando a doutrina do Espírito Santo.
CAPÍTULO I
A ARTE DA ALQUIMIA É CERTA E VERDADEIRA
O Filósofo disse: "é verdade", referindo-se a que a arte da Alquimia nos foi dada. "Sem mentira", disse, para convencer a quem diz que a ciência é mentirosa ou falsa. "Certo", isto é, experimentado, pois tudo o que foi experimentado é muito certo. E "muito verdadeiro", pois o muito verdadeiro Sol é procriado pela arte. Disse "muito verdadeiro" em modo superlativo, porque o Sol engendrado por esta arte ultrapassa a todo Sol natural em todas suas propriedades, tanto medicinais como outras.
CAPÍTULO II
A PEDRA SE DIVIDIRÁ EM DUAS PARTES
Continuando sua exposição, trata da operação da pedra, dizendo que "o que está embaixo é igual ao que está em cima". Disse isso porque, pelo Magistério, a pedra se divide em duas partes principais: a parte superior, que vai para cima, e inferior, que permanece embaixo, fixa e clara. E, sem dúvida, estas duas partes são semelhantes em virtude, daí haver dito: "o que está em cima é como o que está embaixo". Certamente, esta divisão é necessária. "Para fazer os milagres de uma só coisa", isto é, da Pedra, pois a parte inferior é a Terra, a nutriz e o fermento; a parte superior é a Alma, que vivifica toda a Pedra e a ressuscita. Por isso, uma vez realizadas a separação e a conjunção, aparecem os "numerosos milagres" na Obra secreta da Natureza.
CPÍTULO III
A PEDRA POSSUI, EM SI MESMA, OS QUATRO ELEMENTOS
E "do mesmo modo que todas as coisas são e vêm do Uno por mediação do Uno". Aqui o Filósofo exemplifica, dizendo que todas as coisas "são e vêm do Uno", isto é, de um globo confuso ou de uma massa confusa, "por mediação", quer dizer, pelo pensamento e pela criação do Uno, ou seja, de Deus todo poderoso. Assim, todas as coisas nasceram, ou saíram, desta coisa única, que é uma massa confusa, "por adaptação", unicamente pelo mandato e milagre de Deus, assim, nossa Pedra nasce e surge de uma massa confusa, que contém em si todos os elementos e que foi criada por Deus, e por seu milagre nossa Pedra sai dali e nasce.
CAPÍTULO IV
A PEDRA TEM PAI E MÃE, QUE SÃO O SOL E A LUA
Do mesmo modo que vemos um animal gerar naturalmente outros animais com ele parecidos, assim o Sol gera artificialmente o Sol, pela virtude da multiplicação da pedra, e por isso continua: "o Sol é seu Pai" - o Ouro dos Filósofos. E, dado que em todas as gerações naturais há de haver um lugar próprio para receber as sementes com certa conformidade de semelhança entre suas partes, assim também é preciso que, nesta geração artificial da Pedra, o Sol tenha uma matéria que seja a matriz adequada para receber seu esperma e sua tintura. E isto é a Prata dos Filósofos, por isso continua dizendo: "a Lua é sua mãe".
CAPÍTULO V
A CONJUNÇÃO DAS PARTES É A CONCEPÇÃO E A GERAÇÃO DA PEDRA
Quando ambos se recebem um ao outro na concepção da Pedra, esta é engendrada no seio do Vento, e isto é dito em seguida: "o Vento a trouxe em seu seio". Sabe-se que o Vento é o ar, e o ar é vida, e a vida é a alma, que, como já foi dito antes, vivifica a Pedra. Assim, pois, é necessário que o Vento traga toda a Pedra e a transporte, gerando o Magistério. Disso se infere que a Pedra deva receber o alimento de sua nutriz, a Terra. Disse ainda o Filósofo: "a Terra é sua nutriz". Pois, como a criança que sem o alimento que recebe de sua mãe não cresceria jamais, assim também nossa Pedra jamais chegaria a existir sem a fermentação da Terra, e o fermento se chama alimento. Deste modo, por conjunção do pai com a mãe se gera os filhos, semelhantes aos pais, e que, se são submetidos a um demorado cozimento, tornar-se-ão semelhantes à mãe e terão o peso do pai.
CPÍTULO VI
A PEDRA É PERFEITA SE A ALMA SE FIXA NO CORPO
Continua: "o pai de tudo, o Telesma de todo o mundo está aqui". Isto é, na obra da Pedra há uma via final. E nota que Filósofo chama a operação de o "pai de tudo", o "Telesma", ou seja, de todo o tesouro ou segredo de todo o mundo, ou ainda, de toda Pedra que se tenha podido encontrar neste mundo. "Está aqui", como se dissesse: "aqui te mostro". Pois o Filósofo disse: "Queres que mostre quando está acabada e perfeita a força da Pedra? Será quando ela se tenha transformado e convertido em sua Terra", por isso disse: "sua força e potência serão completas, isto é, perfeitas, se se converte e se transforma em Terra". Isto é, se a alma da Pedra (da qual antes se fez menção, dizendo que a alma é chamada Vento ou Ar e que nela está toda a vida e força da Pedra) se transforma em Terra da Pedra e se fixa, de tal maneira que toda a substância da Pedra esteja de tal modo unida à sua nutriz (a Terra) que toda a Pedra se transforme em fermento. De igual modo, quando se faz pão, um pouco de levedura nutre e fermenta uma grande quantidade de massa, mudando assim toda a substância da pasta em fermento, da mesma maneira o Filósofo indica que nossa Pedra terá de ser fermentada de modo a servir, ela mesma, de fermento para sua própria fermentação.
CAPÍTULO VII
A PURIFICAÇÃO DA PEDRA
Continuando, ensina como se há de multiplicar a Pedra mas, antes, faz referências à purificação da mesma e à separação de suas partes, dizendo: "Separarás a Terra do Fogo, o sutil do espesso, suavemente e com grande perícia". "Suavemente", ou seja, pouco a pouco e sem violência, ou melhor, com espírito e habilidade, e por meio do excremento ou esterqueiro filosofal. "Separarás", isto é, dissolverás, pois a dissolução é a separação das partes. "A Terra do Fogo, o sutil do espesso", isto é, a sujeira e a imundície do Fogo, do Ar, da Água e de toda a substância da pedra, de modo que permaneça, em sua totalidade, sem mancha alguma.
CAPÍTULO VIII
A PARTE NÃO FIXA DA PEDRA HÁ DE SE SEPARAR DA PARTE FIXA E ELEVAR-SE
Assim preparada, a Pedra já pode ser multiplicada. Por isso, aqui coloca a multiplicação e fala da fácil liquefação ou fusão desta por aquela, virtude que tem de ser penetrante nos corpos densos e sutis, dizendo: "Subirá da Terra ao Céu e de novo descerá à Terra". Aqui, há que indicar que, ainda que nossa Pedra, durante sua primeira operação se divida em quatro partes - os quatro elementos -, existem nela duas partes principais, como já se disse antes: uma que sobe, chamada não fixa ou volátil, e outra que permanece fixa embaixo, chamada Terra ou fermento. Mas há que se ter uma grande quantidade da parte não fixa para se dar à Pedra quando esta estiver limpa e sem manchas, e terá que ser dada por meio do Magistério tantas vezes quantas sejam necessárias, até que, por virtude do Espírito, ao sublimá-la e fazê-la sutil, toda a Pedra seja levada para cima. Disto fala o Filósofo quando diz: "Sobe da Terra ao Céu".
CAPÍTULO IX
LOGO TERÁ DE SER FIXADA A PEDRA VOLÁTIL
Feito tudo isso, há que se incinerar esta pedra (assim exaltada e elevada ou sublimada), com o azeite extraído dela mesma durante a primeira operação, chamado água da Pedra. E se a fará retornar amiúde, sublimando-a, até que, pela virtude da fermentação da Terra (com a Pedra elevada ou sublimada), toda a Pedra desça ao seio da Terra por reiteração, permanecendo fixa e fluida. É isso que disse o Filósofo: "...e descerá de novo à Terra, deste modo recebe a força das coisas superiores", sublimando, "e das inferiores", descendo, isto é, o corporal se tornará espiritual durante a sublimação e o espiritual se tornará corporal durante a descida, quer dizer, quando se reveste de matéria.
CAPÍTULO X
DA UTILIDADE DA ARTE E DA EFICÁCIA DA PEDRA
"Por esse meio, terás a glória do mundo", isto é, com esta Pedra, assim composta, terás a glória de todo o mundo e "toda a obscuridade se afastará de ti". Quer dizer, toda pobreza e enfermidade. "É a força forte de toda força", pois não há comparação entre a força desta Pedra e as outras forças deste mundo, "pois vencerá toda coisa sutil e penetrará toda coisa sólida". "Vencerá", ou seja, ao vencer e ao elevar-se, transformará e mudará o mercúrio vivo, congelando-o, por mais que seja sutil e brando, e penetrará os demais metais, que são corpos duros, sólidos e firmes.
CAPÍTULO XI
O MAGISTÉRIO IMITA A CRIAÇÃO DO UNIVERSO
Continuando, o Filósofo dá um exemplo da composição de sua Pedra, dizendo: "Assim foi criado o mundo". Assim, temos que nossa pedra se faz da mesma maneira que foi criado o mundo, pois as primeiras coisas de todo o mundo, e tudo o que no mundo tenha havido foi previamente uma massa confusa, sem ordem, um caos, como dito antes. E, depois, por artifício do soberano Criador, essa massa confusa, após de ter sido admiravelmente separada e retificada, foi dividida em quatro elementos; e, devido a tal separação, são feitas diversas e diferentes coisas. Assim também se pode fazer diversas e diferentes coisas pela produção e disposição de nossa Obra e pela separação dos elementos dos diversos corpos. "Disso sairão admiráveis adaptações", isto é, se separas os elementos, far-se-ão as admiráveis composições próprias de nossa Obra, na composição de nossa Pedra, por conjunção dos elementos retificados. Das quais, isto é, destas coisas admiráveis e adequadas a tal fim, o "meio", quer dizer, o meio de proceder "está aqui".
CAPÍTULO XII
DECLARAÇÃO ENIGMÁTICA DA MATÉRIA DA PEDRA
"Por isso sou chamado Hermes Trismegisto", isto é, Mercúrio três vezes muito grande. Depois de haver mostrado a composição da Pedra, o Filósofo declara, de modo enigmático, de que é feita nossa Pedra, nomeando-se a si mesmo. Em primeiro lugar, para que seus discípulos, quando chegarem a esta ciência, recordem se sempre de seu nome. Sem dúvida, aquilo com que se faz a Pedra é tratado a seguir, quando ele diz: "porque tenho as três partes da Filosofia de todo o mundo", que estão, as três, contidas em nossa Pedra, isto é, no Mercúrio dos Filósofos.
CAPÍTULO XIII
PORQUE SE DIZ QUE A PEDRA É PERFEITA
Diz-se que essa Pedra é perfeita porque ela tem, em si, a natureza das coisas minerais, vegetais e animais, daí ser chamada tríplice e também tri-una, isto é tríplice e única, que possui em si quatro naturezas, isto é, os quatro elementos, e três cores: o negro, o branco e o vermelho. Ela também é chamada "Grão de trigo", que, se não morre, fica sozinho; porém, se morre, (como antes se disse quando se falou da conjunção) trará muitos frutos, assim que as operações de que temos falado se cumpram. Oh, amigo leitor! Se já sabes a operação da Pedra, verás que te disse a verdade; se não a sabes, não te disse nada. "O que foi dito da Operação do Sol está cumprido e acabado". O que se disse da operação da Pedra de três cores e de quatro naturezas que estão em uma única coisa, a saber, no Mercúrio Filosofal, está cumprido e acabado.
Traduzido do espanhol por Cláudio Viziolli e Edimar Silva.
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